Impressões sobre o Tribunal

29652Por Simone

Saudações a tod@s!

Meus queridos comp@s, escrevo para relatar a realização da Sessão temática sobre a criminalização do Movimento Estudantil que aconteceu na última sexta-feira, na Faculdade de Direito da USP. Entretanto, devo expor anteriormente alguns aspectos da jornada que foi desencadeada para atingir tal objetivo.

Há alguns meses tinha sido proposta ao Sopros a organização da Sessão temática sobre a criminalização do ME, e desde então nos envolvemos na construção da mesma. Naquela ocasião, embora compreendêssemos que nem todo mundo estava a fim de discutir o ME, concluímos ser estratégico nos envolvermos na construção da sessão por três motivos: primeiro, que tínhamos uma discussão acumulada e uma vivência sobre tal tema, sendo assim,  poderíamos colaborar qualitativamente com o debate; segundo, porque entendemos o Tribunal Popular como um espaço que pode ser importante para uma parcela da classe trabalhadora – que não está organizada em sindicatos, partidos, etc. – tornar públicos os abusos e violações empreendidas pelo Estado cotidianamente, mas que tem sua expressão na morte desses sujeitos; e terceiro, porque queríamos testar a atuação do Sopros enquanto coletivo capaz de desenvolver uma ação na cena pública. Portanto, a despeito das nossas fragilidades e inseguranças enquanto coletivo, e de não podermos contar com a totalidade dos membros do Sopros, (menos por empenho, mais pela distância geográfica) aceitamos o desafio! Nas últimas semanas, nós dos QGs de sampa e colaboradores, nos encontrávamos quase todos os fds para selecionarmos os materiais de audiovisual que conseguimos compilar, para discutirmos a estrutura da sessão, dentre outros, como compartilhar nossos impressões sobre os afazeres diários. Foram fds de intenso trabalho, mas lúdicos (ludicidade é com a gente mesmo!…).  Nesta última semana o trabalho foi bem pesado, visto que os companheiros trabalhadores tiveram que dividir suas energias vitais entre as obrigações do trabalho formal diurno e a jornada noturna extra, para então concluirmos  o vídeo que intentamos apresentar durante a sessão, bem como para divulgarmos a sessão nos diferentes espaços da USP e via listas de -emails.

Chegou a sexta-feira, dia 07/11, e a patota estava lá na Sanfran, firme e forte, alguns molhados pela chuva que não hesitou em querer melar o evento…é assim mesmo, São Pedro é danado para não dizer outra coisa… A sessão aconteceu. O vídeo que fizemos com tanto amor e carinho deu problema e não foi possível apresenta-lo, mas a discussão foi muito boa. A mesa foi composta por alunos da USP, UFSC, Fundação Santo André, PUC- Minas. A sessão contou, entre outros, com a participação de estudantes da USP- São Carlos que foram para São Paulo especialmente para evento. Infelizmente a sessão não estava lotada como gostaríamos, mas a reflexão que foi empreendida pela mesa foi substancialmente qualitativa, a qual fomentou a participação ativa da platéia no debate que se estendeu até as 22:30hs.

Malgrado o público ter sido menor do que o esperado, o mérito do coletivo Sopros não foi abalado, visto que ele reside na forma – democrática e comprometida – adotada na construção e organização da Sessão, bem como na relação com pessoas externas, forma esta que suplanta o sucesso de público e crítica!

  Grande abraço e ótimo trabalho a tod@s.

 Simone (viva a poesia e a ludicidade, rumo ao nosso próximo encontro!)

3 Comentários

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3 Respostas para “Impressões sobre o Tribunal

  1. O Sopros e o Tribunal

    Saio satisfeito com nossa participação no Tribunal. No entanto, acredito que por dois aspectos a nossa experiência possa ser avaliada: primeiro, do ponto de vista da apresentação final, do que foi de fato a sessão ampliada do dia 07; segundo, da perspectiva do processo de construção, do que se seguiu nos dias que antecederam a apresentação.
    Eu, pessoalmente, prefiro o segundo, por onde começo.
    O processo de contrução da sessão, em particular para o pessoal de São Paulo, foi fundamental para a manutenção daquilo que chamamos de Sopros. Como a Si salientou, foram encontros e encontros, onde muitas vezes pareceu não caminharmos para nada de concreto, tamanha era nossa euforia por estarmos juntos e inclinados muito mais à ludicidade e ao desabafo das angústias cotidianas do que encarar um monte de pecuinhas do Mov. Estudantil que, inevitavelmente, envolveriam a organização. Mas isso foi muito bom, pois nesse ínterim fomos artesanalmente recriando aquela sintonia e afinidade de outrora (cuja perda é sempre lamentável). Nestas sessões que preparavam A Sessão senti-me, como a muito tempo não, participando de algo coletivo.
    Em meio a isso, todas as hesitações quanto ao caráter do Tribunal Popular iam sendo evidenciadas na medida em que a cerveja desenfurrajava a conversa. Talvez por isso, não sei ainda, sinceramente, estimar o verdadeiro alcance e o limite desse evento.
    As contradições inerentes a qualquer proposta de montagem de um Tribunal – que pela própria denominação já demonstra ser uma iniciativa que aponta para reprodução dos aparelhos de Estado – sempre nos incomodaram. Ou, pelo menos, impediram que todos os participantes se entregassem (e integrassem) de cabeça a esse projeto. Confesso que entrei de freio de mão puxado, e, no decorrer do processo, senti isso também em outras pessoas. Principalmente quando a linha e o conteúdo que pensávamos dar a esta oportunidade eram retrucados por setores não tão populares e classistas do ME. Findado o processo, analiso que estávamos no caminho certo, e deveríamos persistir e tensionar mais nesse sentido. Mas, a vida é assim, fazer o quê…
    Tudo isso acho que contribuiu um pouco para os percalços que encontramos no momento da Sessão propriamente dita. Faltou um pouco de precaução e antecipação aos problemas possíveis (Exemplo disso foi a não-apresentação do vídeo e a ausência de pessoas para comporem a mesa). Contudo, demonstramos enorme capacidade de improvisação e de agir coletivamente em situações adversas, rs; ótimo para quem há tanto tempo não participava de nada e ficava em casa, e no trabalho, esperando a conjuntura objetiva se alterar para que ficasse à altura de sua preciosa participação revolucionária.
    Exceto estes probleminhas, a apresentação foi maravilhosa. Mais abrilhantada ainda pela surpreendente presença de estudantes combativos vindos de diversas universidades do país. Não era isso que queríamos quando nos dispusemos a essa aventura? Firmar poucos, porém, bons contatos. E isso nós fizemos. Quando futuramente formos começar alguma nova empreitada, a partir de agora, já temos por onde e por quem.
    Todo esse processo serviu também como parte da resposta à pergunta que invariavelmente nos fazemos: que é o Sopros, que porra é essa? Penso que, mais do que aquilo que anunciamos ou desejamos ser, somos o que fazemos, o que realizamos. E nestes últimos 2 meses, o Sopros – ao menos a seccional São Paulo, sei bem – foi o Tribunal.

    Que venham os novos projetos!

    Abraços,
    Taiguara

  2. Patrícia

    Acho muito bom que as avaliações tenham sido positivas….. não duvidava disso… e como já disse, as próximas seções e os novos projetos também o serão…..
    Vocês estão de Parabéns!!!
    Abraços Fraternos,
    da Pati.

  3. coletivosopros

    Assim como alguns companheiros com quem pude compartilhar a experiência da sessão de criminalização do ME, também me senti impelida a escrever um pouco sobre as minhas impressões. Realmente, como já foi pontuado, a avaliação em diversos aspectos é muito positiva sim, é verdade, porém pretendo não ‘chover no molhado’ e reafirmar tudo aquilo que fora assertivo para nós.
    Portanto queria salientar o que me levou a articular mais os preparativos da sessão foi o potencial de organização que poderíamos plantar. Dessa forma, eu que ainda não havia tido nenhuma experiência de luta ao lado dos companheiros do Sopros (digo isso, pela vivência que a maioria já havia travado juntos em Marília), vi a possibilidade de construir relações mais sólidas com aqueles que estavam envolvidos na empreitada. Já imaginava que seria muito construtivas as relações que poderíamos ali travar, eu pelo menos vi um elo muito mais forte sendo trançado, minha amizade com as meninas ia se solidificando a medida em que dividíamos tarefas e trocávamos informações sobre a dificuldade ou êxito em realizá-las, com o Taiguara, por estar mais próximo, nos foi possível realizar quase sempre em conjunto as tarefas que nos cabia, o que em dupla, de certa forma, avança mais rápido e o Giba percebi o quanto seu engajamento no vídeo inseriu ele ainda mais no coletivo. Afinal passamos quase dois meses num contato diário por tel e email e presencial em vários finais de semana. Também pelo fato de compartilharmos posturas na maioria das vezes comum diante da estrutura da sessão, a organização era sempre muito positiva, já que não se perdia tempo com picuinhas e disputas de poder. O mais interessante é que pudemos colocar em prática formas horizontais e autônomas de (auto)organização, além de não precisarmos de nenhum tipo de jargões usados em reuniões formais. Ainda bem que antes de tudo somos amigos e, como já disse a Simone: “ludicidade é com a gente mesmo”. Sempre costumamos dizer na rádio que a nossa linguagem é a festa, é o olho no olho e pude testar esse tipo de organização com outras pessoas e conferi que dá muito certo. Outrossim, o que se é mais importante da luta não é nem tanto o objetivo final que ela almeja, mas a forma como as pessoas envolvidas constroém e se relacionam na mesma. Nesse sentido, obviamente que só reservo elogios para cada um de nós que deu um pouquinho de si nessa sessão. Por outro lado, me lembro que muitas vezes havia um desânimo ou certa desilusão no meio do caminho, eu principalmente, posso dizer que tive essa sensação em vários momentos, o grupo ajudava reanimando nossas forças, mas o que fazia, pelo menos a mim, desacelerar um pouco mais era o fato de não acreditar que uma sessão, no formato Tribunal atinja algo de concreto. Portanto o objetivo da luta aqui era o que desarticulava a organização. Talvez não acreditasse muito no que estava até então envolvida. E ainda me pergunto sobre o que além de todas as coisas importantes que foram levantadas, podemos fazer de concreto para responder à criminalização que sofremos de várias maneiras? O que o movimento estudantil poderia encampar para resistir à isso? Será que é de de real interesse dos estudantes?

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